terça-feira, 26 de outubro de 2010

O conto das pedras.

ao som de A outra, los hermanos.

Apressado já descartando a idéia de ter que inventar mais uma desculpa esfarrapada pelo atraso, tropecei em pequenas pedrinhas no qual mais tarde acabei percebendo que por mais insignificantes que elas fossem havia um proposito em especial para elas ali.

Esbravejei pelo incômodo de pequenas pedrinhas serem tão pesadas e machucarem tanto. Continuei andando com uma cara de quem já começa o dia com o sarcasmo na pele e o ódio nos olhos, acendi um cigarro como café da manhã e fiquei ansioso a espera de mais uma lotação.

Havia terminado o relacionamento a pouco, estava com olhos pequenos, grandes olheiras, rosto pálido e um cheiro de quem ainda não acordou, o banho não repelia o forte cheiro do Martine muito menos o creme dental, o hálito de minha dieta forçada.

Havia conhecido a pouco tempo, logo depois do fim do meu relacionamento Luisa, uma mulher aparetimente decidida, misteriosa e bastante inteligente. Não ligava muito pra aparência já que o contato entre nós dois havia sido apenas virtual sequer tinha o numero dela, isso me deixava frustrado e remexido por dentro, odiava a inquietação que ela desenvolvia em mim, nem a conhecia e meu estômago já se revirava todo quando ela me deixava sem resposta ou quando simplesmente ela sumia como se eu não fosse ninguém.

Ainda amava minha ex mulher, como nunca havia amado nenhuma outra, doente de amor decidi por um fim em nossa linda história já que o ''linda'' não existia mais.

Luisa me fazia procura-la em todos os lugares, eu me sentia escravo daquilo que as pessoas chamam de "rejeição" eu sabia que não era bem isso que ela queria demonstrar, mas eu ficava eternamente pertubado quando não a encontrava. Eu não tinha nada, nem o numero do seu telefone nem o sobrenome dela, só sabia que ela era arquiteta; Conversavamos sobre a vida, sobre nada, sobre o que faziamos na ausência do outro, nos desculpavamos sempre pelo pouco tempo, porém dedicavamos a aproveitar cada segundo juntos. Marcávamos sempre no mesmo horário, no mesmo lugar cheio de prédios e estátuas ao redor com crianças correndo e uma grande lona verde a frente. As longas conversas ao som de Villa - Lobos saboreando entre olhares o gosto meio amargo do cappuccino dela, sempre terminavam com aquele olhar profundo de quem precisa partir com a dor esmagando o peito, sempre era ela a primeira a sumir, a primeira a me enlouquecer, eu tinha a sensação de nunca mais a veria, ela não me dava certeza de nada, moravamos na mesma cidade e sempre achava que ela era de outro país quando estavamos longe. Eu realmente tava gostando de ser nada.

Com o tempo ela foi sumindo da minha vida, e se tornando rotina dentro de mim, sempre no mesmo lugar eu a esperava, certa vez, esperando inquieto a sua chegada, começei a olhar a volta, Luisa tinha a mania de sempre pegar todas as pedras do caminho (na maioria das vezes as que eu tropeçava) e joga-las no lago do parque que nos encontravamos, ela dizia gostar do barulho da água e acreditava estar jogando pra longe todos os problemas. Eu nunca havia percebido o barulho esquisito que o contato da pedra com a água fazia, pra mim aquilo era bobagem, pra ela, alegria. Continuando, tropecei ( pra variar ) em uma pedra bonita, meio parecida com quartz sei lá, era pequena, delicada, lembrei de Luisa no ato, guardei no bolso, tinha planos.

Esperei ela por mais de 1h e por fim meu coração aceitou que ela não viria, eu nunca tinha reparado na arquitetura do lugar que ela exigia que nos encontrassemos sempre. Os prédios pareciam labirintos, o lago o paraíso, as estátuas pareciam expor sempre uma delicadeza, uma paz...a grama refletia um cheiro suave de liberdade, aquele lugar era lindo.

Ao chegar em casa, tratei da pedrinha com carinho (sarcástico não?) poli, fiz um pequeno furo no meio e montei uma gargantilha, no bilhete acompanhando tratei de ser objetivo e carinhoso.

"Uma pedra pode não ter valor algum pro mundo todo, isso já é fato. Mas se uma única pessoa dentre todas elas conseguir ver beleza no seu som em contato com a água, terei certeza de que nem tudo estará perdido."

Esperei encontrar ela no meu mundo virtual, no meu mundo real por dias. Ela parecia simplesmente ter evaporado, e eu me sentia cada dia mais louco, amando as casas antigas, as pedras, o barulho delas na água, tudo que me lembrava ela.

Quando por fim desisti, quando meu coração já havia se acostumado com a sua ausência, pude perceber que nunca mais eu havia tropeçado em pedras em lugar nenhum, nem com as pedras, nem com o gosto amargo do cappuccino, nem com Villa Lobos, com nada. Onde estaria Luisa?

Chega a torturar a saudade de tropeçar em pedras.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Paradoxo.

Eu tinha acabado de chegar de mais um dia, sendo ele impar ou par no meu calendário eu tinha a sensação de ja te-lo vivido ontem.

O que condiz com o meu eu agora é medo, é fúria é duvida, paz... tantos sentimentos juntos me fazem pensar no quão o "FELING" faz parte de mim agora, comparando a algum tempo atrás, onde as coisas eram simples de se viver eu criei metas e anseios para minhas tardes e noites de insonia.

Fico parado pensando no quão é bom sentir tudo isso, no quão é bom sentir-se humano.
Não me importo em ver os dias passarem, sendo eles iguais, fáceis, bonitos de viver ou não. É bom viver, sentir esse misto de sentimentos e se eu fosse o primeiro a mudar tudo isso, me condenaria no fim.

Voltar a ser mais uma pessoa oca no mundo não me atrai, sou vaidoso por natureza gosto de pessoas ao redor, gosto dos seus costumes estranhos, dos seus gestos com as mãos, caras e bocas. Acho que as vezes gosto até das mentiras, e no quanto eu gosto de saber que são mentiras, experiencia é algo bom que a gente conquista vivendo, sentindo, sorrindo, chorando...e por ai vai...

Gosto das musicas que me fazem voar pra fora do meu eu, que me fazem acompanhar sua batida com o coração, gosto do que me traz paz, embora procure sempre a euforia na minha vida e nos meus sentimentos.

Preciso de carinho, sou um fiel dono daquilo que chamamos de romantismo bobo, gosto de domar todos os dias a fera desesperada e furiosa que existe dentro de mim.
É estranho ver as pessoas buscarem sempre o lado 'errado' de tudo sem sequer testarem o que o seu 'inferno' interior escolheria.

Encontrar abraços passageiros, beijos que demoram a chegar e quando chegam não são nem um terço do que você imaginava que fosse.
A saudade dos dias que o coração esperava pelo feriado, a saudade do futuro que parecia já tão certo, a infelicidade de saber que não é mais.
Como é bom ser o paradoxo em pessoa. Gostar ou não gostar, sorrir com os lábios e não com o coração, fingir depois chorar, quem vive sem isso?

Ser sempre feliz é iludir-se, é ser oco, é ser absolutamente infeliz.
Por isso caro leitor, aceite, você nunca vai estar absolutamente completo. Já diziam os sábios, o ser humano não é absoluto!